Toalhas, amenities, água e lixo. A sustentabilidade na hotelaria
A minha profissão – jornalista – fez com que tivesse a minha quota parte de viagens nos últimos quase 30 anos. E é facilmente percetível as mudanças registadas no que concerne à sustentabilidade.
Só para terem uma ideia, quando comecei a trabalhar não era proibido fumar em espaços fechados. Lembro-me perfeitamente de, à hora do almoço, haver uma nuvem de fumo no teto da redação. Ou de viajar num lugar dedicado aos fumadores, numa altura em que ainda era permitido fumar nos aviões.
Mas voltando à hotelaria. Se há quase 30 anos não havia grandes preocupações com o tema da sustentabilidade hoje “a coisa” é diferente. O que não significa que as coisas corram sempre bem.
Vejamos a questão da poupança de água. Creio que foi a primeira (ou das primeiras) medidas a ser implementada pelos hotéis. Em todos os hotéis há uma pequena mensagem, normalmente na casa de banho, a apelar à poupança de água. E onde se diz que se o hóspede pendurar as tolhas isso significa que as vai voltar a usar e que não é preciso trocá-las.
Pois, como diz o ditado, aqui é que “a porca torce o rabo”. Porque posso dizer que ao longo dos anos posso contar pelos dedos (de uma mão) efetivamente os hotéis que não trocaram a toalhas. E isso na prática significa um enorme desperdício de dinheiro. Sem esquecer o recurso a detergentes e desinfetantes.
Mas há mais coisas que eu reparo (talvez por escrever sobre sustentabilidade há coisas que me chamam mais a atenção que um “hóspede normal”). Os caixotes do lixo, por exemplo. São poucos (ou praticamente inexistentes) os hotéis que possibilitam que os hóspedes façam a separação do lixo.
Não sei se há alguma limitação – lembro-me que há coisa de 10 anos ao fazer uma reportagem sobre o Neya Lisboa Hotel (talvez a primeira unidade hotelaria a despertar para esta temática, tendo uma política definida desde a sua génese) – o responsável me ter dito que teve imensa dificuldade em encontrar mini caixotes do lixo que permitissem a separação do mesmo. Talvez seja essa a dificuldade: o acesso aos materiais. Ou talvez o problema seja mesmo a recolha do lixo (por cores e tipos de resíduos) e o depósito do mesmo nos recipientes de maiores dimensões. Creio que poderá ser algo complicado, se não impraticável, numa unidade com várias dezenas, ou centenas, de quartos.
É já tradição trazer os amenities para casa. Quem nunca trouxe o sabonete, o champô ou outra garrafinha qualquer? Eu sou a primeira a acusar-me que tenho um (ou talvez dois) sacos com alguns sabonetes. Mas a verdade é que essa é uma medida que não é nada sustentável. E é por isso mesmo que há vários anos que sou uma defensora da utilização dos doseadores.
Ah… isso é só para hotéis de baixa categoria. Um hotel de cinco estrelas não pode usar um doseador. Fica feio.
Tretas. As unidades hoteleiras, todas elas, independentemente da categoria, podem e devem usar doseadores. Isso não só diminui o consumo de plástico, o gasto envolvido, como impede que os hóspedes os levem para casa. Todos ficam a ganhar.
Ah… e a imagem do hotel? Em que fica? Pois a solução basta usar uma qualidade superior de amenities. Sem desprimor para qualquer marca, uma hospedaria pode perfeitamente usar uma marca considerada branca ou mesmo de supermercado e um hotel de quatro ou cinco estrelas optar por uma marca “luxuosa”. E isso tanto sere para o gel das mãos, o gel de banho, o champô, o amaciador, a loção para o corpo… e há marcas e produtos de excelente qualidade.