
Fumo dos incêndios florestais está a mudar o ar que respiramos — e a pôr a saúde em risco
À medida que os incêndios florestais no oeste dos Estados Unidos se tornam mais intensos e frequentes, o fumo libertado está a alterar a composição do ar e a agravar riscos para a saúde pública — mesmo a centenas de quilómetros de distância das chamas. A conclusão resulta de um novo estudo publicado na revista Atmospheric Environment, conduzido por investigadores do Colorado, Utah e Califórnia.
A equipa analisou grandes fogos ocorridos em 2020, incluindo os que devastaram mais de 1 milhão de acres na Califórnia, provocando 12 mil milhões de dólares em prejuízos, além de incêndios no Utah e no Oregon. Nesse período, vários estados emitiram sucessivos alertas de qualidade do ar devido a céus carregados de fumo.
“Os incêndios não libertam ozono diretamente. O que acontece é que o fumo contém compostos químicos que reagem com a luz solar e produzem ozono, muitas vezes longe do local do incêndio”, explica Jan Mandel, professor emérito da Universidade do Colorado em Denver e membro da equipa.
Segundo o estudo, a presença de fumo de incêndios florestais aumenta em média 21 partes por bilião (ppb) as concentrações de ozono — um valor que se soma aos já elevados níveis existentes no Oeste norte-americano, ultrapassando o limite de 70 ppb definido pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA.
O ozono é um poluente perigoso, associado a sintomas como tosse, dificuldades respiratórias, doenças cardiovasculares e pulmonares, e até risco de morte prematura, alerta o Departamento de Saúde Pública e Ambiente do Colorado.
O trabalho foi desenvolvido com recurso a modelos matemáticos avançados de química atmosférica e previsão meteorológica, integrados num modelo de incêndios. Para os investigadores, os resultados sublinham a ligação entre fogos de grande dimensão, agravamento da poluição atmosférica e impactos adicionais nas alterações climáticas, já que o ozono é também um gás com efeito de estufa.
O estudo contou com financiamento da NASA FireSense Project, da Utah Division of Air Quality e do Wilkes Center for Climate Science & Policy da Universidade do Utah.