
Atlântico dita chuva no planalto tibetano, revela novo estudo
A milhares de quilómetros de distância, o Oceano Atlântico Norte desempenha um papel decisivo no regime de chuvas do planalto tibetano, uma das regiões mais áridas e sensíveis da Ásia Central. A conclusão é de um estudo publicado na revista Climate Dynamics, que mostra como as anomalias de temperatura da superfície do mar no Atlântico influenciam a precipitação de verão na encosta norte do planalto, através de complexos processos atmosféricos de teleconexão.
Localizada no coração da Ásia, a cordilheira de Kunlun constitui uma barreira essencial, alimentando os rios e oásis da bacia do Tarim. Aqui, a chuva de verão é vital e representa a maior parte da precipitação anual. Mas até agora permanecia um enigma a razão das grandes variações de um ano para o outro.
“Descobrimos que a convergência horizontal de vapor de água — especialmente associada a ventos anómalos vindos do sul — é o principal fator a regular a variabilidade da chuva de verão na encosta norte do planalto tibetano”, explica Shijie Tang, primeiro autor do estudo e investigador do Institute of Atmospheric Physics da Academia Chinesa de Ciências.
Do Atlântico à Ásia, via ondas de Rossby
A investigação demonstra que o chamado padrão de dipolo da temperatura da superfície do mar no Atlântico Norte altera os fluxos de calor na atmosfera, desencadeando ondas de Rossby que se propagam para leste ao longo do corredor “Europa Ocidental–Ásia Central”. Estas ondas criam circulações anticiclónicas e ventos anómalos no sopé das montanhas Kunlun, intensificando o transporte de vapor de água e, consequentemente, modificando os padrões de precipitação.
Um novo quadro para a gestão de riscos climáticos
Para Tianjun Zhou, autor correspondente do estudo, este trabalho fornece “um novo enquadramento para compreender a variabilidade da precipitação”, ao ligar interações oceano-atmosfera remotas a processos locais de disponibilidade de água. A descoberta, acrescenta, pode melhorar significativamente a capacidade de previsão e gestão de riscos climáticos numa região onde as comunidades e ecossistemas dependem criticamente de cada milímetro de chuva.