Turismo em Portugal: Entre o Sucesso e a Sustentabilidade

Por Paulo Brehm, Consultor

O negócio turístico tem sido o motor do desenvolvimento económico em diversas regiões no mundo. Portugal, em particular, tem sido disso um exemplo claro, com o turismo a representar quase 10% do PIB, cerca de metade das exportações de serviços, 6,2% do emprego direto e quase 20% do emprego indireto. Estes números refletem o extraordinário sucesso do setor. No entanto, é um sucesso que não deixa de ser acompanhado de sérias preocupações, em matéria de sustentabilidade.

Sem ser exaustivo, contribui significativamente para a poluição, geração de resíduos, aumento do consumo de água e emissões de gases de efeito estufa (GEE). A estas questões, que cabem no pilar ambiental da sustentabilidade, podemos somar questões como o aumento do custo de vida para os residentes, a pressão sobre infraestruturas locais, a perda de identidade cultural ou as condições de trabalho, tudo temas do pilar social da sustentabilidade e, também sem me alargar demasiado, questões como o compliance e a corrupção (pilar de Governança).

Vivemos num estado de emergência climática. Só não aceita quem não quer ver, as evidências entram-nos portas adentro todos os dias. Cada setor tem a sua responsabilidade, e não devemos, nunca, usar os maus exemplos como desculpa para a nossa inação. Claro está, não vamos assacar toda a responsabilidade ao turismo, mas este é responsável por cerca de 8% das emissões globais de carbono, um peso que não podemos ignorar.

De acordo com o World Travel & Tourism Council (WTTC), entre 2010 e 2019, estas emissões aumentaram a uma taxa média anual de 2,5%. Uma pegada que, abrangendo os Escopos 1, 2 e 3 combinados, bem como as emissões do transporte internacional, atingiu 4.131 mil milhões de kg de CO2e em 2019.

Com a pandemia, as emissões do setor diminuíram significativamente, para pouco mais da metade em 2020. No ano seguinte, aumentaram 15%, chegando a 2,298 mil milhões de kg de CO2e, ou seja, cerca de 56% dos níveis de 2019. Em 2021, foi cerca de 62% do nível de 2019. Em breve estaremos acima desse ano pré-pandémico, a crescer a grande ritmo.

O transporte é o maior contribuinte, com aviões e automóveis a gerar a maior quantidade de CO2 por passageiro por quilómetro. Entre 2005 e 2016, as emissões de turismo relacionadas ao transporte aumentaram mais de 60%…

O alojamento também tem um impacto considerável. Hotéis e outros tipos de alojamento utilizam grandes quantidades de energia para aquecimento, refrigeração, iluminação e outras necessidades, o que gera emissões significativas de CO2.

Consciencialização a passo de caracol…

A falta de pressão da opinião pública, porém, é o calcanhar de Aquiles da luta pela sustentabilidade. Apesar de, aos poucos, se estar a tornar um fator cada vez mais importante nas decisões de viagem dos consumidores, sobretudo dos mercados emissores mais sofisticados e informados, está longe de chegar ao nível de preocupação que merece. De facto, muitos turistas estão à procura de opções mais sustentáveis e estão dispostos a mudar os seus comportamentos para reduzir o seu impacto ambiental.

O mais recente estudo da Booking, que envolveu 31.000 viajantes de 34 países e regiões, deixa-nos algo reconfortados ao revelar que 75% dos viajantes globais dizem que querem viajar de forma mais sustentável nos próximos 12 meses, e 43% se sentem culpados ao fazer escolhas de viagem menos sustentáveis. Uns notáveis 71% afirmam que querem deixar os lugares que visitam em melhor estado do que encontraram (em comparação com 66% no ano passado), e a pesquisa adicional deste ano mostra que 45% acreditam que eles mesmos têm o potencial de contrabalançar os impactos sociais das viagens.

E por cá?

Em Portugal, alguns movimentos importantes têm sido feitos em direção a uma atuação mais sustentável, especialmente no setor hoteleiro e na área de incoming e do corporate da distribuição, por serem aqueles que estão já a sofrer, no bolso empresarial, as consequências de serem mais, ou menos, reconhecidos pela sua sustentabilidade. Não é por acaso que, no setor do turismo, a hotelaria foi quem mais depressa adotou as certificações de sustentabilidade.

Confiabilidade e Reputação

As certificações de sustentabilidade que sejam confiáveis e reconhecidas internacionalmente, são, efetivamente, instrumentos essenciais para garantir que, por um lado, as práticas dos negócios são realmente sustentáveis e, por outro, que dão resposta à procura dos parceiros e clientes internacionais. Há que ter em conta que existem centenas de esquemas que vendem a ilusão da sustentabilidade, sem se pautarem pelos melhores princípios ou utilizarem as melhores ferramentas disponíveis. A independência e o rigor científico são cruciais nesta abordagem, e é aqui que entram as certificações e organizações supranacionais que atestam essas questões. Além disso, a nova diretiva europeia sobre o greenwashing vem trazer mais exigências e cuidados nas alegações de sustentabilidade.

A Booking.com, por exemplo, anunciou recentemente atualizações na forma como passou a exibir as escolhas mais sustentáveis para os viajantes, focando em certificações de terceiros. Mais de 16.500 propriedades já têm uma certificação de sustentabilidade de terceiros exibida na plataforma. Tudo o que fique aquém disso, como percebeu este gigante da distribuição, é pouco.

Onde Estamos e Para Onde Vamos?

Portugal carece de um estudo sério sobre a sustentabilidade no turismo, com o envolvimento do mundo empresarial e da academia. Esta é a intenção do Think Tank de Sustentabilidade da Plataforma Nacional de Turismo, que foi recentemente apresentado pelo seu coordenador, Carlos Picanço, e do qual tenho o prazer de ser cofundador e membro.

O que temos, até agora, é um conjunto de peças soltas, informações esparsas, umas mais rigorosas que outras, mas tudo não constituindo mais que ideias. Sem uma base sólida de conhecimento, ficamos apenas no campo das suposições, e com isso não é possível delinear uma estratégia, que não existe.

Estamos apenas no início de um longo processo de educação e formação, além da implementação de diretrizes claras, que resultem da colaboração entre governos, empresas e consumidores.

O turismo em Portugal é uma história de sucesso, mas que vem acompanhada de grandes desafios em termos de sustentabilidade. Olhando para o copo meio cheio, já estamos a ver movimentos importantes em direção a práticas mais sustentáveis. No entanto, é crucial que continuemos a trabalhar e a investir em educação, certificações confiáveis e práticas de turismo sustentável para garantir que Portugal continue a ser um destino atraente para os próximos anos. Como sempre, o caminho é longo, mas os primeiros passos já foram dados, e precisamos manter o ritmo e a determinação para alcançar um futuro mais verde, mais azul e mais sustentável para o turismo em Portugal e no planeta.

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