Agricultores da África Ocidental querem pacotes de serviços climáticos que combinem previsões, crédito e seguros

Um estudo pioneiro publicado na revista Frontiers in Climate revela que agricultores de Burkina Faso, Gana, Mali e Senegal estão dispostos a investir em serviços climáticos agrícolas integrados, desde que estes respondam às suas necessidades reais no terreno. A investigação, liderada por cientistas da Alliance of Bioversity International e CIAT, em parceria com a INERA e a Universidade do Gana, inquiriu 1.212 produtores e concluiu que as soluções mais valorizadas combinam previsões meteorológicas detalhadas, aconselhamento técnico sobre sementes, seguros contra a seca e acesso a microcrédito.

Realidade no campo: entre secas, cheias e incerteza

A totalidade dos agricultores inquiridos relatou ter sofrido episódios de seca na última década. Metade enfrentou cheias repentinas e um terço viu colheitas destruídas por ondas de calor. Perante este cenário, muitos recorrem ainda a sinais tradicionais, como a floração de árvores ou o comportamento das aves, em vez de dados científicos. O problema não é a falta de informação meteorológica, mas sim a sua fraca adaptação às línguas locais, aos calendários agrícolas ou às condições financeiras das famílias rurais.

O pacote vencedor: antecipação e proteção

Entre os cinco pacotes apresentados no estudo, o “Bundle 4” destacou-se: combina previsões diárias, aconselhamento sobre variedades agrícolas, seguros indexados à seca e crédito sazonal. Foi a escolha de 45% dos agricultores, muito acima dos 22% que preferiram o pacote gratuito sem previsões meteorológicas. Em países como o Mali, o aconselhamento varietal foi decisivo; no Gana, a prioridade foi o seguro; no Burkina Faso, o acesso a crédito pesou mais.

Os investigadores sublinham que este modelo cria uma lógica circular: dados climáticos fiáveis tornam o seguro mais relevante, o seguro aumenta a confiança dos bancos e o crédito financia as sementes e fertilizantes recomendados.

SMS, voz e pictogramas: tecnologia ao serviço da adoção

Apesar da elevada taxa de analfabetismo na região (74% no Burkina Faso), o SMS surgiu como o canal mais fiável, sobretudo quando acompanhado por pictogramas simples. Contudo, os especialistas defendem a diversificação, incluindo servidores de voz interativos para pastores nómadas e aplicações móveis para os mais jovens.

Seis prioridades para transformar previsões em ação

O estudo recomenda que governos e parceiros sociais adotem seis linhas estratégicas:

  • Investir em informação prescritiva e contextual, em vez de previsões vagas.
  • Ligar seguros a crédito, permitindo que agricultores arrisquem sem medo da perda total.
  • Diversificar canais de comunicação, para alcançar diferentes públicos.
  • Segmentar pacotes por culturas e perfis agrícolas.
  • Integrar conhecimento local, reforçando a ligação entre ciência e práticas tradicionais.
  • Construir modelos de negócio sustentáveis, com preços diferenciados e subsídios para os mais vulneráveis.

Os autores defendem ainda que o Bundle 4 deve ser institucionalizado nas políticas nacionais, com apoios públicos às primeiras apólices e tarifários sociais para SMS climáticos. Desta forma, afirmam, seria possível transformar o clima de ameaça num aliado da produtividade agrícola e da resiliência económica na África Ocidental.

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