
Corredores exclusivos podem tornar transporte público mais rápido que o automóvel em Lisboa e Porto, conclui ZERO
Na Semana Europeia da Mobilidade 2025, a associação ambientalista ZERO apresentou um estudo que compara os tempos de viagem em transporte público, carro privado e bicicleta nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto. A principal conclusão é clara: sem corredores dedicados, o transporte público continua a perder para o automóvel nos principais eixos de acesso às duas cidades, reduzindo a sua atratividade.
O estudo analisou os percursos entre as cinco freguesias mais populosas de cada área metropolitana e os centros económicos de Lisboa (Saldanha) e Porto (Casa da Música/Boavista). Os dados, recolhidos através do Google Maps entre as 6h e as 9h da manhã, mostram que, na maioria dos casos, o carro é mais rápido do que o transporte coletivo, mesmo quando se inclui o tempo de estacionamento.

Em Lisboa, os trajetos vindos de Cascais, Oeiras e São Domingos de Rana revelam diferenças gritantes: viajar de carro pode demorar metade do tempo do transporte público, que obriga em média a três transbordos. Para inverter esta realidade, a ZERO defende a criação de corredores exclusivos para autocarros na A5 e no IC19, prolongados até zonas centrais da cidade, com prioridade semafórica e paragens otimizadas, capazes de reduzir entre 20% e 40% o tempo de viagem.

No Porto, a bicicleta surge como forte concorrente ao automóvel. Em percursos como Matosinhos, Senhora da Hora ou Vila Nova de Gaia, a deslocação em bicicleta elétrica pode ser até mais rápida que o carro. Já em Gondomar, Valbom e Jovim, o transporte público chega a ser o dobro do tempo do automóvel, o que justifica, segundo a ZERO, a criação urgente de um corredor exclusivo na A43/A20 até Francos.
Medidas prioritárias
A associação sublinha que não é possível garantir qualidade de vida sem reduzir drasticamente o uso do automóvel privado. Entre as medidas propostas, destacam-se:
- criação de uma rede abrangente de corredores exclusivos para autocarros metropolitanos;
- implementação de Zonas de Zero Emissões nos centros urbanos;
- reforço da eletrificação e frequência do transporte público;
- melhoria das ligações pedonais e cicláveis às estações;
- integração de sistemas de bicicletas partilhadas nos passes intermodais, sobretudo no Porto.
A ZERO lembra ainda que a última grande análise à mobilidade data de 2017 e apela à publicação anual de informação atualizada, essencial para acompanhar a evolução dos padrões de deslocação.
Com Lisboa e Porto sob forte pressão habitacional e urbanística, a associação defende que a mobilidade sustentável deve caminhar lado a lado com a reabilitação e densificação habitacional dentro das cidades, reduzindo necessidades de deslocação e o consumo energético associado.