
Na primeira pessoa… Manuel Paiva dos Santos, diretor do Programa “Regenerar” da Fundação Mendes Gonçalves
O que é para si a sustentabilidade?
Esta questão remete-me para um artigo que li recentemente sobre o crescimento exponencial da utilização do termo “sustentabilidade”. O texto evidenciava como esta palavra, outrora restrita ao âmbito ambiental, se tornou um chavão recorrente em múltiplos setores. A verdade é que nem tudo o que à partida ou na teoria se apresenta como sustentável, o é efetivamente. Por isso, tento ser bastante prudente na sua utilização. Para mim, a sustentabilidade tem de englobar três dimensões: social, ambiental e económica. Arriscaria ainda uma quarta, a temporal: vivemos tempos voláteis e complexos. O que é sustentável hoje pode já não o ser amanhã, daí a necessidade de procurar continuamente novas (ou até mesmo antigas) soluções, que tenham em conta as três dimensões clássicas da sustentabilidade e que sejam adequadas ao contexto atual, num processo contínuo de regeneração.
Que medidas de sustentabilidade pratica no seu quotidiano?
A Fundação Mendes Gonçalves está sediada na Golegã, terra de origem e onde sempre esteve baseada a Casa Mendes Gonçalves. Para me deslocar até lá, utilizo frequentemente o comboio e, por vezes, opto pela bicicleta para “dilemas de última milha”. Na cidade, dou primazia à mota face ao carro, sempre e quando não é viável ir a pé ou de transporte público. Em casa, esforço-me por diminuir o desperdício alimentar, faço reciclagem, reutilizo os sacos de plásticos e tento evitar utilizações de eletricidade supérfluas. Procuro ainda dar uso (e reuso) a materiais como roupa, eletrónicos ou outros, numa lógica de economia circular. É também altamente provável que alguém que se cruze comigo num comboio me “apanhe” a transportar alimentos oriundos de uma horta familiar – uma das grandes vantagens de uma vida ligada ao campo.

De que forma dissemina informação sobre sustentabilidade (ou hábitos comportamentais sobre) junto de familiares, amigos e colegas?
Acredito que uma das melhores formas de sensibilizar é pelo exemplo, e a sustentabilidade não é exceção. Ao partilhar a minha experiência, já convenci umas quantas pessoas a optar pelo comboio ou pelo autocarro em trajetos que antes faziam de carro. Quando me instalei como jovem agricultor, optei pelo Figo-da-Índia em detrimento de outras culturas habitualmente consideradas como mais rentáveis, já que esta espécie requer poucos ou nenhuns inputs externos e permite manter o solo sob cobertura, com boas condições, alinhando-se com princípios da agricultura regenerativa. Procuro ainda constantemente desafiar os mais novos para atividades fora de casa, seja a cuidar de animais, a podar ou a plantar árvores. Há tanto para fazer ao ar livre, em contacto com a Natureza…!
Qual o seu maior “defeito” (diga-se mau hábito) em termos de sustentabilidade (e que gostaria de corrigir)?
Adoro viajar. E na realidade da vida moderna, em que o tempo é altamente escasso, viajar implica, muitas vezes, andar de avião. Não vejo solução de curto prazo para este dilema, mas atualmente muitas companhias aéreas já oferecem a possibilidade de um pagamento adicional para mitigar as emissões associadas a cada trajeto. Não é o ideal, mas é uma solução adequada aos tempos em que vivemos, diria.
A organização onde trabalha tem uma política de sustentabilidade? Que tipo de medidas pratica?
A Fundação Mendes Gonçalves nasce a partir da Casa Mendes Gonçalves, que é uma organização pioneira, inovadora e responsável na forma como incorpora a sustentabilidade na sua atividade. Relativamente à Fundação, é possível ir ainda mais longe e afirmar que a promoção da sustentabilidade é precisamente um dos seus principais desígnios. Através dos seus três programas – Educar, Nutrir e Regenerar – propõe um modelo de educação e de desenvolvimento sustentável e integral, baseado na comunidade e na regeneração, que abarca as três dimensões da sustentabilidade. Relativamente à quarta dimensão, e parafraseando o hino da Fundação Mendes Gonçalves, é tempo de fazer o que ainda não foi feito.



